sexta-feira, 1 de junho de 2012

Bibliografia

SILVA, Helena Sofia e Santos, André, Souto de Moura, Vila do Conde: Quidnovi Edição e Conteúdos, S.A. 2011 pp 12 - 21

GÖSSEL, Peter, “o que é a arquitectura moderna?”, em LazloTashen(ed), Arquitectura Moderna de A-Z, Zurique Suíça: Tashen 2010 pp 6-7

Souto de Moura in Trigueiro, 2000 p.30


SDMoura in (Esposito, et al., 2003 p. 92)

Eduardo Souto Moura em entrevista a Luis Rojo de Castro (2005) El Croquis. 124 6-18

5 os aspectos do projecto que mais se distanciam dos modelos canónicos do movimento moderno.

6“As diferenças no modernismo são muitas vezes mais notáveis e levam-nos mais longe que as semelhanças. Estas apontam para as características especiais do edifício individual no sei ambiente, na sua situação histórica, nos seus utilizadores, mas as semelhanças referem se apenas as categorias que foram criadas pela arte ou pelos historiadores da arquitectura e em geral, raramente vão mais longe.”

Por tal razão que a citação acima refere, apesar de a obra conter um traçado em planta característico do movimento moderno, este elemento é imediatamente contraposto quando olhamos para a fachada do projecto e vemos que aquilo que o caracteriza e nos atrai reside não só no tipo de material utilizado mas também nas sensações que este provoca. A qualidade do material e a forma como este é trabalhado acaba por se sobrepor às qualidades funcionais do projecto.
Além disso, como é sabido, um dos arquitectos modernistas com o qual podíamos identificar Souto Moura, Mies van der Rohe, representava mais planos que paredes, e no entanto este autor projecta os muros como “peças que ‘escapam’ da linha de conclusão”, necessitando de acabamento e impedindo a leitura do plano como lemos em Mies.

Souto de Moura faz com que prevaleça o aspecto de obra interrompida ou inacabada, como que uma negação da claridade de desenho do projecto, Desta forma contribui uma vez mais para a expressão dum antagonismo com o movimento moderno.
Também representantes deste constante contraste com os modelos canónicos do modernismo, são os cinco monólitos de secção quadrada e alturas crescentes. Estes apoiam-se sobre o muro que marca o desnível e que, ao mesmo tempo, define o espaço reservado ao campo de ténis, como se de um monumento se tratasse. Elementos remanescentes altivos de algum foro romano destruído, provocando a referida sensação de permanência, de ruína onde “uma coluna quer ser mais do que uma simples coluna”.

6.GÖSSEL, Peter, “o que é a arquitectura moderna?”, em LazloTashen(ed), Arquitectura Moderna de A-Z, Zurique Suíça: Tashen 2010 pp 6-7

4 Aspectos do projecto mais próximos dos modelos canónicos do movimento moderno :

O arquitecto articulou de forma muito coesa desenho, esquema construtivo e topografia revelando uma linguagem muito pessoal fruto das suas influências :
_ desenho livre, sóbrio e amplo, explorado em superfícies lineares e rectilíneas, que definem axialmente o espaço, característico de Mies van Der Rohe e Siza Vieira;
_ toda a presença temporal e simbólica dos materiais, nomeadamente a pedra, conjugada com uma intervenção na topografia do terreno, evidenciando a amplitude do mesmo ao longo do programa _ característico de F.L.Wright e A. Aalto.

Dessa forma Souto de Moura como que nacionaliza o "estilo internacional", nomeadamente através dessa estreita interligação entre o rigor formal Miesiano e as técnicas de construção da tradição nortenha Portuguesa. Confronta assim, duas abordagens distintas numa contradição inerente a toda a obra. Por um lado faz uso da racionalidade, sofisticação e clareza modernas. Por outro lado baseia-se na tradição, simplicidade e censo-comum do costume Português.

3 a lógica funcional e espacial do corte que melhor representa o projecto :


Após a entrada na casa que desemboca num corredor (4), percebemos que este percorre longitudinalmente o edifício desenvolvido no referido piso único.
A meio do corredor surge uma ligeira mudança de cota. Esta, marca com um lanço de escadas, a fronteira entre a zona privada_ de pé-direito mais baixo; e zona de convívio e serviços_ de pé-direito mais alto.
Através do corte destacamos também, o jogo entre a evidência e a dissimulação da laje de cobertura, referido no ponto 1.

2 a lógica funcional e espacial da planta que melhor representa o projecto


Após uma pesquisa alargada sobre as características do contexto de intervenção e a forma como o projecto lhes responde, competiu ao grupo fazer uma análise, tanto das plantas como dos cortes do projecto, para descrever de forma objectiva a lógica funcional desta obra.

1"A tipologia, quase sempre só com um piso (integra-se melhor) varia com as geografias. No Norte, as casas são estreitas e compridas, com um longo corredor fechado para o exterior, por um muro que continua e define o perímetro do lote."

A entrada no terreno é feita através de um portão no limite nascente do lote. (1)
A partir daqui avista-se o edificado, situado no limite oposto à entrada. Desse modo, e devido à sua forma baixa e algo extensa adquire uma leitura horizontal.
Seguindo um percurso(2) que acompanha o court de ténis e o edifício encontra-se a porta de entrada(3). A mesma está localizada aproximadamente no centro do alçado norte e é uma das únicas aberturas neste_5 “<...> A Norte, apenas a porta indica a entrada.⁵”
No seguimento da entrada surge o corredor (4) que liga todos os espaços da casa, funcionando não só como eixo de distribuição e orientação do espaço mas também como definidor da abordagem programática do edifício.
Assim, verificamos que Souto de Moura localiza :
a norte as zonas de serviços (cozinha(5), lavandaria(6), arrumos(7) e WC de serviço (8)) ;
a sul, as áreas sociais e privadas (salas(9), quartos(10) e Wcs (11) ).
A partir da mesma origem localizam-se as salas de estar e jantar, com ligação entre si e com o exterior, através de grandes envidraçados voltados a sul. No seu topo nascente encontram-se os quatro quartos. Estes são quase semelhantes, pois têm vãos de igual dimensão, voltados a sul, e a mesma área de circulação. Mas também apresentam as suas diferenças, destas destacam-se as casas de banho e os espaços de arrumação.
Num pequeno alargamento do corredor está o escritório e a casa de banho, que serve um quarto e as áreas sociais da casa.
Por seu lado, no extremo poente do eixo de circulação encontra-se a piscina interior(12).
Esta divisão é bastante ampla e tem grandes vãos envidraçados direccionados a sul e poente e é também servida por um pequeno balneário(13). Neste topo encontra-se também um espaço que funciona de ligação entre o corredor e a cozinha, lavandaria e exterior.
Relativamente a espaços exteriores destacam-se o court de ténis(14), o vasto jardim(15) e ainda uma zona pavimentada(16) adjacente às salas no lado norte.

4.SDMoura in (Esposito, et al., 2003 p. 92)
5.Souto de Moura, Documento sobre a intervenção na Casa 2 de Nevogilde

1 as características do contexto de intervenção e o modo como o projecto lhes responde

A arquitectura de Souto de Moura surge de uma apropriação natural do seu tempo e da identidade do lugar onde o arquitecto evoluiu, enquanto recém-licenciado em 1980. Num período do século XX em que o movimento Pós-Moderno exerce o seu domínio, e em pleno período pós 25 de Abril, em Portugal, o arquitecto natural da Escola do Porto começa por estagiar com Siza Vieira. Não obstante, não deixa de desenvolver uma estética e personalidade próprias com as suas primeiras obras autónomas, na década de 80, com destaque para várias intervenções de carácter unifamiliar na região do norte de Portugal.

Assim, numa das suas principais assinaturas, o arquitecto evidencia a necessidade de expressar a sua identidade, a partir duma evocação da memória do lugar. Como que exercitando a saudade de uma linguagem, de um tempo, de um outrora, no seu caso, extremamente conectado com a noção de espaço e delimitação de propriedade privada, típica da escala e geografia da região nortenha do país. De certa forma, o arquitecto expressa a sua “Portugalidade”, imbuída no contexto arquitectónico internacional da época. A dissolução da ideia Modernista, evidenciada no período Pós-Moderno é destacada em Souto Moura por uma busca de uma alternativa conceptual à forma e à função, com a ideia de lugar e momento histórico. Para fundamentar ainda mais esta ideia, encontramos por exemplo esta citação do próprio Souto de Moura:

1“O sítio é um pressuposto. Não existe o sítio. O sítio é um instrumento <…> e o sítio é aquilo que se quer que ele seja <…> A solução está na cabeça das pessoas <…> o sítio é coisa mental. Portanto, o sítio é tão importante quanto as outras coisas q intervêm no projecto.

O terreno e implantação, da casa 2 de Nevogilde, são resultantes de uma junção de lotes unificados, através da presença da ruína do que seria um edifício de características agrícolas.
Assim, toda a fachada Sul da casa é resultante de uma selecção e composição das pedras presentes no terreno, que dessa forma foram edificar toda a estrutura.

A memória, no tema da ruína, muito explorado pelo arquitecto, é materializada no elemento parietal granítico longitudinal (material típico da região) ao longo do topo norte. Note-se a presença de pedaços inacabados nas fachadas, simulando essa mesma ideia de ruína ou obra inacabada.
De facto, o conceito de muro, é um dos elementos mais caracterizadores da estética evocadora de memória, de Souto de Moura, nos seus primeiros trabalhos.
Ao relembrarmos a Rhiel House de Mies, em que o arquitecto volta a casa para si mesma, potenciando a sensação de intimidade e protecção, no seio da família, Souto Moura exalta essa sensação através da presença do muro. O prolongamento vertical da parede da fachada sul do edificado, na zona dos quartos e WC principal, comunica exactamente essa ideia. Assim, a testa da laje de cobertura é dissimulada sublinhando a presença de um único plano vertical.
A interrupção praticada sobre esse mesmo plano único, por intermédio das grandes superfícies de vidro individuais a cada divisão, é desse modo praticamente integrada. A própria tridimensionalidade do edificado é diluída por detrás dessa superfície bidimensional.
A sobriedade e linearidade de planos, da linguagem estética Miesiana, são de novo simultaneamente dissimuladas e enaltecidas através da ausência de elementos estruturais nas fachadas, nomeadamente com a presença do pilar de sustentação da cobertura, no interior do edificado.
Este aspecto pontual, iminentemente estrutural evade-se da sua própria evidência no exterior da obra, para se integrar e enaltecer no volume interior do edificado, onde está presente a piscina interior. Dessa forma ultrapassa essa sua função estrutural e acaba por qualificar esse mesmo espaço interior.

1. Souto de Moura in Trigueiro, 2000 p.30